Resenha: Imperfeitos (teste) - Leitora de Papel

Resenha: Imperfeitos (teste)

Publicado em segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Lançamento da editora Novo Conceito, Imperfeitos tem a sutileza de uma boa distopia, com tudo o que procuramos em livros do gênero, e o que deveria ser mais do mesmo acaba por surpreender com um desenvolvimento incrível e um final arrebatador.
Sinopse: Celestine North vive em uma sociedade que rejeita a imperfeição. Todos aqueles que praticam algum ato julgado como errado são marcados para sempre, rechaçados da comunidade, seres não merecedores de compaixão. Por isso, Celestine procura viver uma vida perfeita. Ela é um exemplo de filha e de irmã, é uma aluna excepcional, bem quista por todos do colégio, além do mais, ela namora Art Crevan, filho da autoridade máxima da cidade, o juiz Crevan.Em meio a essa vida perfeita, Celestine se encontra em uma situação incomum, que a faz tomar uma decisão instintiva. Ela faz uma escolha que pode mudar o futuro dela e das pessoas a seu redor. Ela pode ser presa? Ela pode ser marcada? Ela poderá se tornar, do dia para a noite Imperfeita? 
Celestine vive em um mundo dividido. A sociedade perfeita julga aqueles que cometem crimes morais, separando-os por marcações à ferro quente na pele, impedindo-os de frequentar certos lugares, de comer certas comidas, de sair depois do horário determinado. Os chamados Imperfeitos são discriminados, tratados como sombras. Para ela, o mundo é ótimo desse jeito, até que não é mais. Celestine ajuda um Imperfeito, e ela é julgada por isso. Celestine se torna um deles, e sua punição vai além do esperado; para os perfeitos, ela é um erro. Para os Imperfeitos, uma causa, um mártir. Para ela mesmo, de repente, é uma ninguém.
É a minha tragédia que eles temem. E isso me dá força.
A protagonista tem o arquétipo do tipo mais interessante para histórias do gênero. Ela é a personagem centrada, satisfeita com o mundo privilegiado em que vive, intocável pelos defeitos dele, até que, movida pelo que acredita ser uma atitude inocente, nada justificável para uma punição, Celestine é condenada como Imperfeita. Por ajudar outro ser humano marcado, ela se torna um deles. E a injustiça e crueldade desse sistema em que vivem começa a se destrinchar para ela a partir do momento em que sente na pele o que é ser discriminada.
- É horrível. Uma mulher me olhou outro dia como se eu tivesse matado todos os filhos dela. Eu preferia me matar a viver assim.
Esse é um livro sobre injustiças. Não espere tramas políticas grandiosas, reviravoltas chocantes ou cenas de ação arrebatadoras. Ele é incrível exatamente por ser uma distopia calma, o início de uma revolução. Imperfeitos é a promessa de que a sociedade injustiçada está começando a se erguer, que eles não querem aceitar os julgamentos impostos por um Tribunal tido como corrupto. Celestine é o estopim, mas vai muito além dela. E o fato de ela nunca se portar como uma heroína, como alguém que quer fazer a diferença, esses foram os fatos que mais me conquistaram na sua personalidade.
Há uma guerra em curso, Celestine. Não deixe que eles a usem.
Ela não perde o egoísmo do começo do livro, mas entende os problemas da sua sociedade com o tempo. Ela não perde o medo da punição, especialmente por ter sido a Imperfeita mais marcada da história. Ela não se livra do terror que o Tribunal impôs sobre sua figura, sobre sua vida a partir das marcações. Celestine é uma adolescente assustada pouco disposta a fazer a diferença, mas ansiosa para que as coisas mudem. Ela é quase um paradoxo ambulante, e é frustrante mas ao mesmo tempo é verossímil com tudo que ela representa.
Além de Celestine, temos a presença constante de sua família, que sofre os abalos do julgamento dela de maneira mais emocional. O pai é um personagem mais constante, disposto a se levantar contra a injustiça pela filha, e a mãe é mais contida, temerosa quanto ao que a aguarda caso levante a voz. Celestine tem uma irmã, antes sua sombra, introvertida, agora em destaque graças ao que Celestine se tornou. O relacionamento entre as duas teve dois grandes momentos dentro do livro, e achei muito interessante como a autora trabalhou o ressentimento e o afastamento de cada uma delas.
Os Imperfeitos são pessoas comuns que cometeram transgressões morais ou éticas.
Art, namorado da protagonista, se provou um grande babaca. Com atitudes compreensíveis, mas covardes. O modo como ele se porta diante da Celestine antiga e da Imperfeita provam muito sobre sua personalidade, e o quanto ele é um medroso indigno. O fato de ser filho do chefe do Tribunal não é justificativa para as coisas que ele diz ou pelas suas atitudes.
Ah, Crevan, o homem responsável pela condenação e punição da protagonista, é um dos vilões mais bem trabalhados que já li em distopias. Ele tem um que de Presidente Snow e Alma Coin, agindo de acordo com o que acredita ser o melhor, ainda que o melhor remeta a crueldades. Ao mesmo tempo em que tem muito de corruptível e de psicótico, perdendo a linha para provar seus pontos.
Um dos personagens que eu mais gostei, curiosamente, foi um dos que menos apareceu - e graças aos céus por isso. Cecelia apresenta Carrick ao leitor brevemente, com apenas uma fala, e ele se torna uma figura de apoio para a protagonista mesmo se tratando de um desconhecido. O fato de terem dividido um trauma e uma memória tão pesada quanto as marcações cria essa ligação entre os personagens, e você torce desesperadamente para que ele apareça por ela, porque sabe que Carrick é o único capaz de entender Celestine melhor do que ela mesma.
A edição da Novo Conceito está ótima. Alguns errinhos de revisão, mas nada que atrapalhe a leitura. Diagramação boa para leitura, e a capa tem um detalhe incrível que quando eu descobri sofri o maior mindfuck.
Estamos aqui para sermos usados como um reflexo dos piores pesadelos do mundo. Bodes expiatórios de tudo o que há de errado na vida dos outros.
Uma sociedade imperfeita justamente por criminalizar imperfeições é o que te espera na leitura dessa série distópica. Com um final de tirar o fôlego, Imperfeitos abre caminho para uma continuação que já aguardo desesperadamente. Título Original: Flawed Autor: Cecelia Ahern Editora: Novo Conceito Gênero: Distopia Nota: 5 Saiba Mais: Skoob | Saraiva | Submarino Buscapé

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